sábado, 23 de agosto de 2003

O PERFIL DA SELEÇÃO BRASILEIRA JUVENIL MASCULINA

(cbv.com) 22.08.2003 | 11h28


BRUNO AUGUSTO IÓRIO ZANUTO (São Paulo)

- campeão sul-americano infanto-juvenil / Argentina 2000

- campeão da Superliga 01/02 pelo Telemig Celular/Minas

- Ponta

- Altura: 1,99m

- Camisa nº 11

Bruno diz que a numerologia determinou que o seu número da sorte é 11 e que seu apelido, Borba, somado à data de nascimento também dá 11, por isso pediu para vestir esta camisa da seleção. Mas é 3 o número que mais aparece em seus dados: nasceu em 3/3/83 com 3 quilos e 330 gramas.

E vai disputar seu segundo título mundial em 2003. Superstições a parte, Bruno Augusto Iório Zanuto parece ter a cabeça no lugar. Não se afasta do foco, como ele mesmo diz, “mas sem querer controlar as situações”.

O apelido Borba surgiu da reclamação de um técnico, quando ele não se abaixava o suficiente para defender uma bola. “Parece a estátua do Borba Gato, todo duro”, comparou o treinador. No bairro Santo Amaro, zona sul de São Paulo, há uma estátua imponente do bandeirante, muito conhecida dos paulistanos.

Bruno nasceu na capital paulista e antes de completar 12 anos já estava experimentando o vôlei, no Colégio Tabajara, em Moema, onde disputou uma tradicional competição intercolegial chamada copa Dan’Up. Escola com tradição esportiva por lá passaram Ana Moser, Marcelo Negrão, Giovane, Rodrigão e Pipoca (do basquete).

Apesar de ser quase vizinho do Clube Banespa, o Pinheiros foi seu primeiro clube na carreira de atleta federado, em 1998, quando já tinha 1,83 m de altura – hoje está com 1,99 m. “A família é toda alta”,

conta. “Minha mãe tem 1,79 m, meu pai, 1,83 m. Os irmãos, Alexandre tem 19 anos e 1,94 m, joga no

Mackenzie, mais por prazer, pois está concentrado no seu curso de Administração. Marcelinho, 17, está com 1,92 m e joga no São Caetano.”

Em 1998 Bruno recebeu o que considerou uma boa proposta: transferir-se para Sorocaba, onde treinava de manhã e de tarde e estudava à noite. Foi também quando trocou de posição, de atacante de meio para atacante de ponta.

A troca funcionou. Em 2000 foi para o Minas Tênis Clube e começaram os títulos nacionais em clubes, já que no ano anterior fora campeão brasileiro infanto-juvenil pela seleção paulista. No Minas sagrou-se bicampeão da Superliga, nas duas temporadas seguintes. Ainda em 2000 foi campeão sul-americano na Argentinha, onde foi escolhido o melhor atacante. Em 2001 foi campeão mundial, infanto, no Egito e escolhido, de novo, o melhor atacante. No ano passado, já juvenil, foi campeão sul-americano e mais uma vez ganhou o título de melhor atacante, com uma novidade – foi escolhido ainda o melhor jogador da competição, realizada em Poços de Caldas, Minas Gerais.

Bruno teve, entretanto, alguns contratempos. Chamado por Bernardinho para treinar com os adultos – a lista completa tinha 21 nomes – viu suas chances se reduzirem com um problema que o incomodava muito, uma dor no joelho de difícil diagnóstico. Essa dor não era novidade, sentira já quando jogava pelo Minas. “Mas como fui poupado e muito bem tratado no Minas, ela acabou desaparecendo. Ressurgiu justamente quando fui treinar com os adultos”, lamenta Bruno.

Finalmente, os médicos descobriram que havia se soltado um pedaço da patela (uma cartilagem no joelho). A quatro meses do mundial do Irã Bruno enfrentou uma cirurgia. Passado o período difícil, quando duvidou de sua presença no campeonato, junto aos colegas que o acompanhavam desde o Egito, Bruno está de novo em forma.

E com foco definido:”Tenho de trabalhar muito. Quem traça para si coisas grandes, tem que vencer grandes obstáculos. Estou pronto para enfrentá-los. As primeiras e pequenas conquistas – como se sustentar (saiu de casa aos 15 anos) , comprar um carrinho, pagar o aluguel – isso eu já consegui.”

Recusou três propostas para ir jogar na Itália porque achou que não era a hora. Também não conseguiu fazer o vestibular (inscreveu-se em Publicidade, Educação Física e Marketing Esportivo) porque o calendário de jogos é intenso. “Aprendi que cada partida é um confronto diferente. Vale-se da experiência adquirida para ter serenidade. Mas só isto também na ganha jogo. É preciso concentração e dedicação. Todo nosso grupo estará assim no Irã. Tenho certeza.”


EDER FRANCIS CARBONERA (Farroupilha, RS)

- campeão mundial infanto-juvenil/Egito 2001

- Meio

- Altura: 2,04m

- Camisa nº 1


Eder quer ser, um dia, arquiteto. Sua preferência se revelou na única tarde de passeio que teve a delegação brasileira em Berlim. Ele fotografava todo o monumento ou manifestação arquitetônica que chamava sua atenção. O vestibular ele não conseguiu fazer, mas foi um curso de desenho técnico, no Senai, que deu a ele a certeza que arquitetura é o caminho certo.

Nascido em Farroupilha, mas criado em Caxias do Sul, ambas cidades vizinhas e gaúchas, Eder também está encerrando seu ciclo de juvenil. Nasceu em 19 de outubro de 1983 e este é o último ano na seleção. Na volta do Irã espera-o o campeonato paulista, que disputará pelo Banespa. Também aguarda o jovem camisa número 1 da seleção a Renata, atleta de handebol da Hebraica, outra namorada paciente. Como dos outros colegas, é um namoro que tem sua carga de dificuldade, dada as viagens constantes de Eder. “Tentamos falar ao máximo por telefone e por e-mail”, consola-se.

Sem tirar o olho da seleção adulta – Eder é atacante de meio - ele sabe que seu futuro está, a curto prazo, ligado ao Banespa para onde se transferiu em 2001, quando tinha 16 anos. Chegou a jogar, quase simultaneamente, nas três categorias (infanto, juvenil e adulto), quando conquistou o campeonato paulista. Na temporada de 02/03 foi campeão da Superliga.

Eder também tem o título mundial infanto-juvenil, conquistado no Egito. Com essa mesma turma, só não participou do Sul-Americano da Argentina em 1999. Ele começou a jogar vôlei na Universidade de Caxias do Sul, UCS, na posição de oposto, por necessidade do time e do técnico Giovane Brizotto.

Com 2,04 m, ele gosta mais do ataque pelo meio, até porque a seleção brasileira tem um recurso que os outros times (e seleções) não costumam ter. A bola até a linha de três metros ainda é levantada para um ataque de meio, se assim for decidido. Os outros times só jogam essa bola se o passe estiver bem próximo da rede. “Nós conseguimos fazer isto e assim surpreendemos muitas vezes os adversários, que ficam esperando bola na ponta, como a maioria deles faz normalmente, quando estão no ataque”, explica Eder.

Logicamente, Itália é um assunto sempre presente. Mais ainda por causa das duas transferências anunciadas – de Luis Felipe e de Wallace. Eder tem uma opinião muito definida: ”Se for para jogar, acho bom. Se for para ficar no banco, acho melhor permanecer mais um tempo no Brasil para se firmar mais, embora reconheça que disputar um campeonato italiano seja um crescimento na carreira.”


LEANDRO ARAÚJO DA SILVA (Limeira, SP)

- campeão da Superliga 00/01 pelo Telemig Celular/Minas

- campeão mundial infanto-juvenil / Egito 2001

- Meio

- Altura: 2,06m

- Camisa nº 3

O mais alto de todos os jogadores da seleção juvenil brasileira chama-se Leandro Araújo da Silva, tem 2,06 m, e em dezembro próximo completa 20 anos. Quando ele salta na rede para atacar, a mão chega aos 3,54 m. Quando bloqueia, 3,30m. Não tinha feito ainda 13 e já estava com 1,89 m. “A família é toda assim”, explica o jovem. “Minha irmã, Tatiane, a mais velha dos cinco filhos, tem 1,78 m e chegou a jogar handebol, mas desistiu. Fernando tem 17 está com 1,96 m e joga basquete no Nosso Clube, de Limeira, onde nascemos todos. E têm ainda os gêmeos Lucas e Luan, com 11 anos, que estão no colégio. Mas, não sei a altura deles.”

Foi obviamente pela altura, que Leandro chamou a atenção do CTV de Limeira (Centro de Treinamento de Vôlei), onde jogou de 1996 a 1999, como infanto-juvenil. Depois, seguiu em frente, foi para o Clube Fonte, de Campinas (“Onde o Maurício começou sua carreira” lembra Leandro), para disputar o campeonato estadual paulista.

Depois de dois anos em Campinas, Leandro mudou-se para o Minas Tênis Clube. Aí, sua carreira deu saltos, pois conquistou o mundial do Egito ainda como infanto, jogava pelo infanto e pelo juvenil do Minas e estava relacionado entre os 18 atletas da categoria adulta para disputar a Superliga.

Apesar disso, ficou apenas mais um ano em Belo Horizonte. Nas vésperas de tentar o seu segundo título mundial Leandro já tem novo destino. Ao voltar do Irã, se agregará ao grupo do Ulbra, que fez parceria com o São Paulo para disputar o estadual e, em seguida, irá para Porto Alegre, onde jogará pelo Ulbra nas competições seguintes: Grand Prix, Supercopa e Superliga.

Sonhos? O de quase todos. Aprimorar sua técnica para chamar a atenção de algum italiano, o que parece ser o paraíso (na visão dos jogadores) do vôlei, neste mundo.Ele diz que não tem preferência por posição, embora seja qualificado como um atacante de meio. “No Sul-Americano, eu joguei como oposto,”conta Leandro. Mas, confessa, “o que eu quero, mesmo, é jogar.” Esta será sua última participação como juvenil na seleção brasileira. E não tem muitas esperanças de jogar na equipe adulta. Ele explica porquê: “No meio tem o Gustavo, o André Heller, o Rodrigão e o Henrique. Como oposto, o André Nascimento e o Anderson. É um time muito compacto, muito certinho. Acho difícil uma vaga.”

Assim, ele vai continuar dando tudo que pode para prosseguir no vôlei e tentar retomar os estudos, interrompidos no segundo ano do segundo grau. E a vida amorosa? Laconicamente, responde: “Isto é assunto meu.”


MICHAEL PINTO DOS SANTOS (Birigui, SP)

- campeão sul-americano infanto-juvenil / Argentina 2000

- campeão da Supercopa 2002 pelo Banespa / Bento Gonçalves

- Meio

- Altura: 2m

- Camisa nº 4

Michael, a exemplo de Wallace (que corria os 110 m com barreira) praticava outro esporte olímpico, a ginástica de solo, salto no cavalo e barra. Sua infância foi vivida em Birigui(SP), onde a prefeitura se encarregava de sustentar uma escolinha de esporte para crianças. E por seguir outros meninos, Michael foi experimentar o vôlei. Meses depois, freqüentava mais a quadra do que a ginástica. E quando chegou aos 13 anos – medindo 1,87 m – tinha virado um “aluno” exclusivo do vôlei.

Entusiasmado com o progresso, foi para Sorocaba se submeter a uma peneira (seleção de atletas) feita pelo Colégio Objetivo,(que patrocinava um time)em 1999. Tinha então 15 anos. Foi reprovado e voltou de cabeça baixa para a cidade natal. Porém, semanas depois, leu no jornal a notícia que uma nova peneira estaria sendo realizada, desta vez pelo Banespa, na capital paulista. “Estou lá até hoje”, diz com um sorriso vencedor. “Foram dois anos como infanto, dois como juvenil e mais um como adulto”, já campeão da Superliga 02/03, jogando como oposto.

Na seleção a posição de Michael Pinto dos Santos (2 metros) é atacante de meio, lugar que reveza com Leandro (2,06 m) e com Eder (2,04 m).”Como dá para ver, a briga é feia, porque embora tenha altura, ainda sou o mais baixo dos três. Sem falar na seleção adulta, onde todo mundo é alto, também”, diz o jovem Michael.

Ciente disso, diz que o melhor, agora, é esperar para ver o que acontece. Terminou o segundo grau, mas diz que não tem tempo para cursar uma faculdade. Acha que poderá fazer um curso de inglês logo, pois sente muita falta em suas viagens. Só este ano, andou pela Servia e Montenegro, Eslováquia, Rússia, Alemanha (duas vezes) e encerrará com o Irã no campeonato mundial.

Ele tem uma certeza. Vai ficar ligado ao vôlei, mesmo depois de parar de jogar. “Como técnico ou como fisioterapeuta. O vôlei eu não largo mais. Foi ele que me deu tudo o que tenho até agora e não falo de coisas materiais.”

Os dois mais novos


RAPHAEL THIAGO DE OLIVEIRA (São Paulo)

- Clube Pinheiros

- Oposto

- Altura: 1,96m

- Camisa nº 16

Raphael Thiago de Oliveira, paulistano e morador de Guarulhos, é dos mais novos integrantes do grupo de jovens que compõem a seleção brasileira juvenil. Joga como oposto na seleção e no Clube Pinheiros, de São Paulo. Há dois anos, quando tinha 17, sagrou-se campeão estadual na categoria infanto-juvenil. Raphael, 1,96 m, também é iniciante na carreira internacional. Juntou-se à seleção no começo do ano, depois de se submeter à peneira promovida pelo treinador, Marcos Lerbach, que chamou 18 rapazes para selecionar 12 a fim de disputar o Mundial no Irã.

Para ele, é muito importante o título, pois seu clube está fora da Superliga e sua exposição, portanto, é menor do que dos seus colegas. Quando terminar a competição em Teerã, Raphael voltará para São Paulo e disputará o estadual adulto.

Mesmo fora da Superliga, Raphael está feliz, pois acha que o aprendizado na seleção é algo fantástico: “O que eu estou aproveitando, aprendendo, não tem dinheiro que pague. É tanto informação, tanto o que Rubinho e o Marcos ensinam, que eu fico pensando como reter todas essas informações”, conta entusiasmado.

Raphael só acha que não teve muita sorte ao nascer em ano par (1984). No próximo ano, haverá o campeonato sul-americano, cujo limite de idade é 19 anos, um a menos do que o limite para o mundial. Por isso, no próximo ano, quando houver o sul-americano, ele estará com 20 anos, portanto com idade acima do limite da categoria juvenil. Raphael estará dando adeus à seleção após este mundial, porque no próximo ano, para disputar o sul-americano, serão convocados os jogadores que neste ano encerraram seu ciclo como infanto-juvenis (dentro do mesmo critério), isto é, os nascidos no biênio 85/86.


LEANDRO GRECA (Curitiba)

- Banespa

- Líbero

- Altura: 1,94m

- Camisa nº 17


Leandro Greca é outro que revela preocupação, mas com um futuro mais imediato. O camisa 17, que começou a carreira em 1998, no Curitibanos, da cidade natal e capital do Paraná, não sabe exatamente o que será de sua vida esportiva quando estiver de volta do Irã. Até agora, não teve o contrato renovado com o Banespa, portanto não sabe se voltará para disputar o estadual paulista ou se ficará sem clube.

Líbero titular da seleção, Greca – 1,94 m – começou sua carreira como atacante de ponta. “Eu era um ponteiro mediano. Não estaria hoje na seleção se tivesse permanecido nessa posição. Quando apareceu a oportunidade, foi no Banespa, experimentei a posição de líbero e me dei bem”, explica. Ficou jogando como titular até a volta de Sérgio, o Escadinha, não só titular da seleção adulta, considerado o melhor do mundo na posição.

No Curitibanos, Greca ficou até 2000. Trocou pelo Santa Mônica, também de Curitiba, treinado na época por Rubinho, atual assistente de Marcos Lerbach, na seleção. Greca não tem nenhum título pela seleção juvenil, pois foi chamado este ano e ganhou a posição pouco antes do time embarcar para a Sérvia e Montenegro, quando começou a fase de preparação do mundial do Irã.


RAPHAEL FLORENCIO MARGARIDO (Itapeva, SP)

- campeão sul-americano infanto-juvenil / Argentina

- campeão mundial infanto-juvenil / Egito 2001

- Levantador (capitão da equipe)

- Altura: 1,85m

- Camisa nº 2

Quem tem sete anos de “profissão” pode ser considerado um atleta experiente? E se ele tiver apenas 20 anos de idade? Pois o capitão da equipe juvenil que na próxima semana estará defendendo o terceiro título como campeão mundial, joga vôlei desde os 13 anos e começou como atacante. Isso era nos tempos do Pinheiros, em 1996, quando pertencia à categoria chamada pré-mirim.

Como não cresceu o exigido para a função de atacante - chegou “apenas” a 1,85 m - tornou-se um levantador. Aconteceu quando Raphael começou a jogar pelo Colégio Objetivo, em Sorocaba. Entre 1999 e 2000 consolidou sua técnica e acabou capitão da seleção brasileira juvenil.

Em 2001 transferiu-se para o Banespa, aliás, ano consagrador porque, além de ser contratado por um time de primeira linha, conquistou o título de campeão mundial infanto-juvenil, no Egito. Tinha, então, 18 anos incompletos.

E o que é ser capitão? O que é preciso para assumir o posto? “Bem, acho que tenho alguma habilidade para conversar com os colegas sobre qualquer problema. Às vezes, alguém está saindo do foco do grupo e precisa de um apoio. Um capitão também pode evitar que um problema cresça e chegue à comissão técnica”, explica “Vinhedo”.

Raphael ganhou o apelido porque mora nessa cidade do interior paulista, desde os 8 anos, quando a família mudou-se da cidade natal, Itapeva. Ele também acha mais fácil jogar numa equipe adulta do

que pela seleção juvenil. “No clube, como é o meu caso no Banespa, sou o mais jovem e por isso a cobrança vem maior em cima dos mais experientes. Aqui na seleção, não, a responsabilidade é nossa, toda nossa.”

Além de o fato de ter um dos colegas chamado Sérgio, o Escadinha, considerado o maior defensor do mundo e dono da camisa do líbero da seleção adulta, Vinhedo também aponta outro motivo: “Na seleção, não podemos relaxar nunca porque é perigoso, podemos escorregar diante de um time inferior e a frustração ser ainda maior”.

Este mundial passou a ser o título mais importante da carreira. E, talvez, para os outros também porque, como Vinhedo, há 8 atletas nesta seleção juvenil que têm o título de campeão mundial infanto, conquistado em 2001. Rússia, Alemanha, Polônia, além do Irã e da Índia, são apontados por Vinhedo como as equipes mais fortes da competição e que poderão se atravessar no caminho brasileiro.

Fora das quadras, o capitão pensa nas folgas e quer gozá-las junto dos familiares, já que não existe uma namorada “por absoluta falta de tempo”, diz ele. E a folga não será muito grande. Terminado o mundial do Irã, uma semana de folga, apenas. Em seguida, vestirá a camisa do Banespa que disputa o campeonato paulista, iniciado. Depois, o Grand Prix, a Supercopa, a Superliga e já estamos falando de 2004.


WALLACE JANSEN DE SOUZA MARTINS (Rio de Janeiro)

- campeão sul-americano infanto-juvenil / Argentina 2000

- bronze na Superliga 00/01 / Unisul

- campeão infanto-juvenil / Egito 2001

- vice-campeão na Superliga 2002/2003 / Unisul

- Oposto

- Altura: 2,05m

- Camisa nº 5

Wallace Jansen de Souza Martins, nascido na Pavuna, é o único carioca que veste a camisa ( número 5) da seleção brasileira juvenil. Joga como oposto e tem na potência do saque e da cortada suas armas mais importantes. A carreira de atleta e a primeira conquista começaram, porém, em outro lugar, não numa quadra de vôlei. Wallace corria os 110 metros com barreira e foi campeão estadual pela Mangueira em 1998.

Resultado da aproximação de uma prima, cujo marido era diretor da escola de samba. O irmão mais velho, Alexandre, é quem insistia muito para ele praticar esporte. Mas, Wallace não parava de crescer e já com 2,02m o atletismo não parecia o esporte ideal para ele. Novamente, o irmão Alexandre entrou em cena, obrigando-o a participar de uma “peneira” no Olympikus.

Pouco entusiasmado com a nova empreitada, lá se foi o garotão se submeter uma processo de seleção, que separava atletas federados dos não federados. Até então, o vôlei que jogava era de brincadeira, na escola. Acabou escolhido e jogando pelo time infanto-juvenil, com 16 anos, em 1999. No ano seguinte, mudou-se para a Unisul e foi campeão sul-americano pela seleção brasileira. Em 2001, ainda com idade de infanto começou a jogar pela equipe adulta do Unisul. Ano em que conquistou o título de campeão mundial infanto-juvenil, no Egito. Agora, espera adicionar à sua carreira mais um título de campeão mundial, só que na categoria juvenil.

No Brasil, jogando pelo Unisul, ficou em terceiro lugar na Superliga 00/01 e foi vice-campeão na temporada seguinte. E já está de malas quase prontas. Wallace está com viagem marcada para a Itália. É o segundo do grupo (o outro é o curitibano Luiz Felipe, que vai para o Modena, onde joga Dante, da nossa seleção principal) que se muda para disputar um campeonato nacional fora do seu país.

Ele foi contratado por dois anos pelo Lupi Santa Croce, do grupo A2, segunda divisão italiana, um time que tem apoio da cidade inteira, segundo contou a ele o empresário Carlos Weber. Wallace concluiu que era melhor este teste do que ficar na reserva de Milikovic, o argentino que está voltando da Itália para jogar no Unisul. Por isso, Wallace embarca dia 7 de setembro para seu novo destino, de braço dado com sua namorada, a atleta (também de vôlei), Franciele, ponta da Furb, de Blumenau. Ela tem 22 anos e alguma esperança de, em estando por lá, conseguir um contrato para jogar vôlei também.

Aos 20 anos, 2,05 m de altura e segundo grau incompleto - parou no primeiro ano - Wallace sabe que o vôlei não é para sempre. E a Itália pode ser um salto também financeiro.


LUIZ FELIPE MARQUES FONTELES (Curitiba)

- campeão sul-americano infanto-juvenil / Argentina 2000

- campeão mundial infanto-juvenil / Egito 2001

- campeão da Supercopa 2002 pelo Banespa

- Ponta

- Altura: 1,96m

- Camisa nº 12

Ele tem 19 anos e ela, 17. São namorados e até o final do ano estarão começando vida nova em outro continente. Luiz Felipe Fonteles, o Xupita, curitibano, já acertou os detalhes com Fernanda, catarinense de Blumenau. Ele segue para Modena, na Itália, logo na primeira semana de setembro. Fernanda viajará em dezembro. “Eu sei que é grande o desafio, porque vamos construir uma vida nova, juntos, desde o começo”, diz ele em tom sério. Da Itália não conhece nada, mas tem uma referência: Dante, jogador da seleção principal, também joga no Modena (da divisão A-1,que significa a divisão especial da liga italiana) e lá vive com a esposa. “Pelo menos, esperamos tê-los como nossos guias”, diz Xupita. Este apelido ganhou ainda criança. Ao falar apressadamente, quis dizer sukita (o refrigerante) e pronunciou xupita. Foi o bastante.

Ele já tem alguns planos. Uma poupança para assegurar o futuro e voltar à faculdade de Direito, abandonada em Blumenau porque as viagens do vôlei o absorviam totalmente. Xupita anda com uma pasta preta embaixo do braço, com anotações e uma variedade de verbos em italiano, emprestada pelo preparador físico Roberto de Carvalho. Ou seja, o projeto Itália já começou.

O atacante de ponta da seleção juvenil brasileira vinha sendo observado pelos italianos desde 2001,quando Xupita sagrou-se campeão mundial infanto-juvenil, no Egito. Tinha, então, 17 anos. Da temporada passada da Superliga, defendendo o Banespa, os italianos tiveram acesso a vídeos e confirmaram as qualidades do jovem atleta. Depois disso, foi uma reunião com seu empresário, Rogério Teruo e um contrato de três anos, renováveis por mais três, com salário (não declarado), carro e moradia.

A carreira esportiva de Xupita começou cedo. Em 1996, ainda com 13 anos incompletos, na categoria petiz, ele aprendeu a jogar vôlei no Curitibano. Em 2000, como infanto, foi jogar no Cocamar/Maringá. Em 2001 trocou pelo Barão, de Blumenau, participando da Super Liga. No ano seguinte mudou-se para o Banespa, onde estava até o primeiro semestre deste ano. Como o capitão Raphael, Xupita também acha que a competição onde mais se sentiu cobrado foi o mundial do Egito, o primeiro grande marco de sua carreira, embora não destacar a importância do mundial juvenil que começa na próxima semana, em Teerã.


RICARDO PERINI DE AVIZ (Joinville, SC)

- Atleta da Intelbras (São José/SC)

- Levantador

- Altura: 1,86m

- Camisa nº 6


“Eu sou o palhaço da turma”, vai se anunciando logo o levantador reserva da seleção brasileira juvenil de vôlei masculino, Ricardo Perini de Aviz. Ele tem mesmo um espírito alegre e está sempre pronto para fazer uma piada. Quinta-feira, ao tirar a fotografia oficial para o credenciamento do campeonato, chamou a atenção do compenetrado fotógrafo iraniano, que não autorizava o uso de sua foto para fins comerciais, (“tipo, modelo, sabe?”).

E saiu dando uma risada. Ele também ficou observando, minutos antes do avião aterrisar no aeroporto de Teerã, a transformação rápida das mulheres iranianas a bordo, que tiravam seus blazers coloridos e trocavam pelo casaco preto e longo, assim como colocavam os véus, ou seja “vestiam seus uniformes de iranianas”, brincava.

Poderia se dizer que Ricardo tem o espírito do carioca, meio gaiato, até, embora tenha nascido em Joinville, uma cidade típica da colonização alemã. Seu primeiro clube foi o Bom Jesus e assim começou por disputar o estadual de Santa Catarina, com oito times, e depois os Jogos Abertos do estado, nos moldes paulistas. “No comecinho”, explica, “eu era atacante de ponta porque não havia jogadores muito altos, éramos da categoria infanto-juvenil.”

Entretanto, depois, Ricardo passou a ser considerado o baixo do time (1,86m) e hoje é o levantador, quando não está na seleção, do Intelbras, de São José, uma cidade colada em Florianópolis, que disputa a Superliga desde 2001. Para lá ele foi com 18 anos. E vai continuar brigando pela posição, pois o titular é William, que esteve relacionado entre os 18 jogadores que Marcos Lerbach chamou inicialmente para escolher os 12 que disputariam o campeonato mundial no Irã. Portanto, são duas reservas que geram duas batalhas. Além, é claro, deste mundial, que poderá render a ele o segundo título internacional. O conquistado, foi o Sul-Americano juvenil, em 2002, em Poços de Caldas.

Sempre bem-humorado, Ricardo diz que se acha criativo na área de comunicação e marketing e por isso fará vestibular (já terminou o colegial) para seguir publicidade. Mas, pretende jogar até os 30 anos, se possível encerrando a carreira na Itália. De amor, vai bem. Acabou de reatar com a namorada Jenifer, que também se prepara para o vestibular de Comunicação. E quer comemorar o reencontro, usando a medalha de ouro, “uma motivação a mais”, diz o atleta, que fará 20 anos em janeiro de 2004.

Para finalizar a conversa, mexe com Raphael Thiago, que assistia a sua entrevista. “Este cara”, conta rindo, “disse que falava inglês perfeitamente. Pois na Iugoslávia, ele comeu pouco e o que não pediu, só para não dar o braço a torcer, pra gente, que não estava entendendo nada do que dizia a garçonete.”


SAMUEL FUCHS (Curitiba)

- campeão sul-americano infanto-juvenil / Argentina 2000

- campeão mundial infanto-juvenil / Egito 2001

- campeão da Superliga 01 /02 pelo Telemig Celular/Minas

- Ponta

- Altura: 1,98m

- Camisa nº 14

Foi graças ao vôlei que Samuel Fuchs ganhou uma bolsa de estudo no Colégio Decisivo e teve o primeiro contato com o esporte, em Curitiba, cidade em que nasceu.Tinha 14 anos e 1,86m. Sua primeira experiência em clube foi no Santa Mônica, também da capital paranaense. Por três anos, jogou nas categorias infanto-juvenil e juvenil.

Samuel se revezava, sempre como atacante, entre a ponta e a saída (oposto). “Foi o Rubinho, na época treinador do Santa Mônica, que me deu um toque para experimentar as duas posições e tirar uma conclusão sobre qual delas seria melhor para mim”.

O time seguinte foi o Minas, no final de 2001. “E continuo por lá, jogando no juvenil e no adulto. No final deste ano termina o contrato”, conta Samuel. Mas ela espera jogar a Superliga da próxima temporada, 2003 e 2004, ainda pelo Minas e ter uma boa presença. Esta turma da seleção juvenil está dando um adeus à esta categoria e daqui por diante terá que lutar para manter um lugar de destaque num mercado que não é tão vasto, dentro do Brasil, se considerarmos a coleção de títulos internacionais das diversas seleções.

Sobre suas perspectivas na seleção de adultos, Samuel parece ter os pés no chão. Além de achar que o técnico da seleção adulta, Bernardinho, deve relevar a perda da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, porque tem títulos muito mais importantes para o vôlei – e ganhos recentemente – ele sabe que a convocação para a equipe principal não é fácil, pelo menos até os Jogos Olímpicos de Atenas.

“Ele poderá fazer alguma modificação no time base, mas eu, por exemplo, teria pela frente o Giovane, o Giba, o Nalbert e o Dante. É muita coisa. Tenho como meta uma boa performance na Liga. Depois, vamos ver”, diz o jovem atleta, um dos oito que compõe o grupo de campeões (1999 ,Sul-Americano, na Argentina e 2001, Mundial no Egito – campeões infanto-juvenis e 2002 campeões Sul-Americanos em Poços de Caldas, Minas).

Ainda faltam alguns anos para terminar seus estudos básicos. Samuel parou no primeiro ano do segundo grau e a família e o técnico do Minas (Carlos Alberto Castanheira, o Cebola) pressionam para que ele volte à escola. Ele parece, porém, mais propenso a fazer um curso de inglês, “o que resolveria meu problema de comunicação, quando estou viajando”. Mas, considera a possibilidade de um supletivo.

As namoradas é que estão raras. “De vez em quando rola uns beijinhos, mas não pintou ninguém, ainda. Além disso, namorada a gente tem que arrumar no Brasil”, explica.

Sobre o campeonato Mundial em Teerã, ele mostra uma certa tranqüilidade, embora reconheça que a Rússia, Servia e Montenegro e Itália são três times perigosos.”


JOÃO PAULO DE FIGUEIREDO TAVARES (Três Pontas, MG)

- campeão sul-americano infanto-juvenil / Argentina 2000

- campeão da Supercopa 2002 pelo banespa

- Ponta

- Altura: 2,03m

- Camisa nº 18

O mais calado dos atletas da seleção brasileira é João Paulo, um mineiro de Três Pontas (MG). Nasceu em 1983 e, portanto, também está dando adeus à categoria juvenil. Seu vôlei começou a aparecer em Três Corações, outra cidade mineira, em 1999."Foi quando comecei a me dedicar a serio", diz ele, como quem está encerrando a conversa.

Nessa cidade, jogou pelo Unincor, a partir dos 16 anos, até 2001 na categoria infanto-juvenil. Ficou um ano parado e só em 2002 voltou a jogar, desta vez pelo Banespa. E ate agora está no mesmo time. Pela Unincor, João Paulo chegou a disputar dois campeonatos juvenis no mesmo ano. O mineiro e o carioca, porque durante um certo tempo o Vasco da Gama fechou um contrato com a Unincor. E este time jogava com a camisa do Vasco da Gama, no Rio.

No Banespa, conquistou um titulo juvenil estadual em 2002, o mesmo ano em que se sagrou campeão Sul-Americano na mesma categoria, em Poços de Caldas. Em 2000 ele fez parte do time campeão Sul-Americano Infanto-Juvenil, na Argentina.

Na sua volta do Irã, espera disputar a Superliga, temporada 02/03 e os Jogos Abertos de São Paulo, pois o Banespa mudou-se para São Bernardo (recebeu apoio da prefeitura) e assim poderão participar desta competição, da qual só fica fora a capital.

Atacante de ponta, com 2,04 m, quando disputou o Sul-Americano na Argentina jogava pelo meio e era até três centímetros mais baixo. Mas acha que está se dando bem nesta posição.

Planos? Talvez, após os Jogos Olímpicos de Atenas sobre algum espaço na seleção adulta. Com o segundo grau completo a universidade é o próximo passo (a família cobra muito), mas ele está indeciso. Ainda não sabe de vale a pena fazer Fisioterapia, embora não se sinta só entusiasmado pelo curso por causa do esporte. "Penso numa atuação mais ampla como fisioterapeuta", diz João Paulo.

Ao justificar-se sobre o comportamento que tem, sem falar quase nada, nem sorrir muito ("sou meio caladão, mesmo"), ele também explica que namorada está difícil, justamente por isso. Mas, talvez, voltando com uma medalha de ouro no peito as coisas mudem.

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